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Entrevista concedida em 2011, antes do lançamento do livro Simplesmente ler

 

Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por ceder a entrevista. Como foi o início de Edith Chacon para o meio literário?

 

Edith Chacon: Eu é que agradeço tal oportunidade. Em casa, não havia livros. Meu pai era muito simples, pouco letrado, mas um excelente contador de histórias, despertando-me para o mundo da literatura. Aos nove anos, minha primeira paixão – Monteiro Lobato. Mais tarde, os clássicos, levados por uma professora do antigo Magistério. Fiz letras na PUC/SP e de lá para cá a literatura continua invadindo minha vida com grande intensidade. Foi a partir do contato com a literatura, com a poesia que as primeiras ideias foram sendo colocados no papel. Desejo que cresce a cada dia, pois sem ficção, torna-se impossível viver.

 

 

Ademir Pascale: Dia 30/07 você lançará na livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo, o livro de poesias infantojuvenil "Simplesmente ler". Como foi a ideia inicial para a criação deste livro?

 

Edith Chacon: O Simplesmente ler foi sendo escrito desde minha adolescência. Um verso aqui, outro ali, uma idéia lá e um rabisco acolá. Sem que eu percebesse, a poesia foi acompanhando minha trajetória tão simples e complexa de se ler. Os poemas foram sendo levados para a sala de aula, para as oficinas, até que um dia senti que eu tinha um conjunto de poemas que poderiam ser passados para um público de jovens mais amplo, então pensei que era hora de tentar publicar. Para minha sorte, fui apresentada ao editor Alexandre Faccioli, que tão bem cuidou dessa publicação levando-me para a Editora Callis. 

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Ademir Pascale: Todo bom livro infantojuvenil vem também acompanhado de boas ilustrações. Comente sobre o ilustrador Fernando Pires.

 

Edith Chacon: O Fernando foi um presente. O Alexandre estava pesquisando ilustradores e acabamos optando por essa pessoa simples, sensível e extremamente competente. Posso dizer que o Simplesmente ler tem dupla poesia: a dos poemas e a das imagens. Leituras que se completam e se ampliam.

 

Ademir Pascale: Além de aulas de Português, Você ministra oficinas de poesias, crônicas, fábulas etc, para professores. Somente professores podem participar ou seus cursos são também abertos ao público?

 

Edith Chacon: Até hoje, as oficinas e cursos foram ministrados em escolas, encontros literários e associações como a ABD (Associação Brasileira de Dislexia).  Participaram delas alunos, educadores, fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, pediatras e oftalmos. Nos dias 13 e 14 de agosto, participarei do 1º Encontro Literário, promovido pelo Instituto Cultural Elias José, conversarei e desenvolverei atividades com leitores de diferentes idades, no Parque da Mogiana, em Guaxupé, No dia 27 de setembro, farei uma oficina na Associação Viva e Deixe Viver, que será aberta ao público interessado.  Assim que meu site ficar pronto, teremos mais novidades.

 

Ademir Pascale: Você faz curso de pós em Formação de Escritor com Marcelino Freire, autor que publicou em 2004 a obra Os cem menores contos do século, com minicontos de até 50 letras. O miniconto, infelizmente, ainda não é um gênero muito aceito por alguns escritores. Comente.

 

Edith Chacon: A qualidade literária independe do número de caracteres.  O microconto pode não ser aceito, ainda, por alguns conservadores, assim como ocorreu num passado com o conto e a crônica, que só foram popularizados com o advento da imprensa. Em particular, creio que o miniconto esteja ganhando cada vez mais espaço, principalmente nos meios eletrônicos, devido à rapidez de sua leitura e concisão. Ele cabe em qualquer lugar. Celulares, camisetas, caixa de fósforos, blogs, twitter, folhetos... É lúdico. Diverte. Diz muito, com poucas palavras.  Isso não significa compreensão rápida, pois a leitura do microconto requer um leitor mais fluente, mais atento, que percebe o elemento surpreso implícito nas entrelinhas. Como diz Juliana “É como um estalo de consciência, um breve despertar da percepção e imaginário do leitor”. 

 

Ademir Pascale: Para você o que falta para a nossa literatura tornar-se mais conhecida entre nós brasileiros, sendo que geralmente os livros que ocupam o topo em vendas no Brasil ainda são de autores internacionais?

 

Edith Chacon: Esta é uma pergunta complexa. Pesquisas dizem que o brasileiro lê pouco e as listas dos “mais vendidos” publicadas nos cadernos culturais e revistas semanais confirmam que o brasileiro lê mais literatura estrangeira. Por quê? Preconceito? Desinformação? Vende-se muita literatura estrangeira de qualidade, mas no meio muito best-seller. Se separar o best-seller, a conta não seria diferente? Não se pode comparar literatura com best-seller. Acredito que nossos escritores brasileiros continuam vendando mesmo que lentamente. Exemplos: Moacir Scliar, Luís Fernando Veríssimo, Cristóvão Tezza, João Ubaldo Ribeiro, Martha Medeiros, Chico Buarque. Ademir, sinceramente, não sei onde está o problema. Tenho mais dúvidas do que respostas.  Por que nossos editores e livreiros divulgam e publicam mais literatura estrangeira? Política de mercado? E a poesia que não aparece em nenhuma lista, nem de brasileiros, nem de estrangeiros?  Por que mídia e o governo não oferecem mais apoio aos escritores brasileiros? Como as escolas podem colaborar nesse aspecto?

Como professora de Português do Ensino Fundamental II, tenho observado que os jovens estão lendo sim! Tanto best-seller como literatura de qualidade.  Cabe à escola cuidar da formação do leitor. A sala de aula deve estar sempre com as portas abertas para que as “leituras” aconteçam. Cabe ao educador torná-la atraente para que se queira andar entre livros, para que o leitor se sinta seduzido a enfrentar sabores e dissabores e principalmente para que ele enfrente o esforço que demanda uma leitura no seu sentido amplo. Ler o simples e o complexo. Ler, simplesmente ler.                                                                                  

 

Ademir Pascale: Quais dicas daria para os escritores em início de carreira?

 

Edith Chacon: Considero-me uma principiante e uma eterna aprendiz. Dicas para mim mesma. Ler sempre. Ler muito. Ler quase tudo. Ler, simplesmente ler. Escrever sempre. Escrever muito. Escrever quase tudo. Reler, reescrever e escrever novamente até a exaustão.

 

 

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

 

Edith Chacon: Em breve, pretendo publicar mais dois livros de poesias: um infantil e outro juvenil, e um conto infantil – adaptação livre de uma história inventada pelo meu pai.

 

Perguntas Rápidas:

 

Um livro: Dom Quixote de La Mancha
Um(a) autor(a): Machado de Assis
Um ator ou atriz: Fernanda Montenegro
Um filme: Ano passado em Marienbad
Um dia especial:hoje

 

Ademir Pascale: De seja encerrar com mais algum comentário?

 

Quero aprender a escrever bem poemas e contos para que meus alunos – público infantojuvenil – possam se encantar, se divertir Para que se sintam provocados. Para que se perguntem. Para que sejam tocados pelo texto de alguma forma. Para que não sejam passivos diante do mundo. Para que possam sonhar e viver diferentes aventuras embarcados nas tramas das benditas, malditas e inquietantes personagens. Para que gostem de ler e de escrever sem medo do que possam sentir.

 Ademir, precisamos de mais pessoas assim como você. Engajado e preocupado com a literatura, além de generoso por divulgar novos escritores. Obrigada pela oportunidade.

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